Muitos diriam que a palavra que define os nossos tempos é ansiedade. E faz sentido, vivemos correndo, mentalmente sobrecarregados, sempre à espera de algo. Mas, se eu pudesse escolher uma palavra que explica a raiz de tudo isso, eu escolheria dopamina.

A dopamina é um neurotransmissor ligado ao prazer e à recompensa. E a internet, com seus estímulos rápidos, brilhantes e ininterruptos, virou uma fonte inesgotável dessa substância. Cada notificação, cada curtida, cada nova aba aberta nos oferece uma pequena dose de prazer fácil. E o cérebro aprende rápido onde buscar esse alívio imediato.
Eu ouso dizer que até a queda no consumo de bebidas alcoólicas pode estar ligada a isso. Não necessariamente por uma maior consciência de saúde, mas por pura conveniência. Por que sair, gastar, se arrumar, se posso ter entretenimento imediato, gratuito e sem esforço na tela do meu celular?
A fonte de dopamina foi apenas substituída, o vício continua, só mudou de forma.
A diferença é que agora ele é mais silencioso. Enquanto o álcool e outras drogas afetam visivelmente o corpo e a mente, os estímulos digitais agem de maneira mais sutil. Causam cansaço sem razão, queda de memória, insônia, irritação, intolerância ao tédio, dificuldade de foco, compulsão por compras e um sentimento constante de insatisfação. E o mais perigoso: tudo isso parece normal e gera até bons memes como este:

Poucas pessoas estão verdadeiramente conscientes de como seus hábitos digitais moldam seus comportamentos. Inclusive o consumo. A internet não serve apenas para mostrar produtos, ela nos ensina a desejar o tempo todo. A querer agora. A não aguentar esperar. Compramos por impulso, para aliviar o tédio, para sentir algo. E isso, de novo, é dopamina.
Mas nem toda dopamina é ruim. O problema não está no neurotransmissor em si, mas no tipo de prazer que escolhemos buscar. Existe a dopamina rápida, fácil, imediata, descartável, e a dopamina construída, aquela que vem depois de esforço, espera e dedicação.
Quando você estuda, trabalha, planta uma ideia, investe tempo ou dinheiro com sabedoria, o prazer vem. Não na hora, mas ele vem. E é muito mais duradouro e transformador. Esse é o tipo de prazer que vale a pena.
Nas finanças, por exemplo, a promessa de ganho rápido quase sempre esconde um prejuízo. O dinheiro consistente vem da paciência, da constância, da disciplina.
A questão é: você está escolhendo conscientemente as suas dopaminas? Ou está sendo levado pelas mais fáceis, baratas e viciantes?
Não precisamos viver no desconforto constante, mas também não podemos depender de estímulos o tempo inteiro. O tédio ensina, nos ajuda a refletir e tomar decisões. A espera constrói, pois só o tempo é capaz de consumar nossos sonhos. O foco e a constância recompensam.
O verdadeiro prazer, aquele que vale a pena, está justamente em aprender a cultivar a dopamina certa.
Livro: Nação Dopamina de Anna Lembke

Se você quer se aprofundar nesse assunto, indico o livro Nação Dopamina. A obra mostra como vivemos em uma sociedade viciada em estímulos rápidos (redes sociais, compras, séries, jogos) e como isso afeta nosso humor, produtividade e até nossos relacionamentos.
A autora, Anna Lembke, explica de forma acessível como a busca incessante por prazer imediato bagunça nosso equilíbrio interno e oferece caminhos práticos para recuperar o controle, cultivando mais disciplina, presença e satisfação real. Uma excelente leitura para quem deseja entender a relação entre cérebro e hábitos, para tomar decisões mais conscientes no dia a dia.


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