Você já parou para pensar se está realmente tomando decisões de forma consciente?
Talvez pareça que sim, afinal, é você quem escolhe o que consumir, certo? Mas a verdade é que, enquanto você navega pela internet, vê um vídeo ou rola o feed, empresas e marcas estão arquitetando, com precisão cirúrgica, formas de prender sua atenção e manter você engajado.
Hoje, não é apenas a publicidade tradicional que tenta nos convencer. Os influenciadores, muitos dos quais seguimos porque parecem “gente como a gente”, passaram a ditar tendências, rotinas e produtos com naturalidade. Mas por trás do suposto “espontâneo”, existe um roteiro cuidadosamente elaborado. Marcas os contratam para tornar o consumo algo natural, quase necessário.
Se antes a publicidade era clara, com comerciais na TV ou outdoors nas ruas, agora ela está disfarçada de entretenimento, inserida na rotina de forma sutil. O consumidor moderno, dizem os especialistas em marketing, rejeita propaganda direta, ele quer praticidade, conteúdo e diversão. E as marcas obedecem.
É por isso que a loja de roupas do seu bairro começou a gravar vídeos com dancinhas, transições criativas e até um toque de humor. Parece que vale tudo por alguns segundos da sua atenção.
Mas atenção é só o começo. Abaixo, reuni 6 estratégias de marketing que as empresas usam para te manter envolvido. Saber reconhecê-las pode te ajudar a consumir com mais consciência, ou pelo menos, cair nessas armadilhas sabendo que está caindo.
1. Gamificação
Sabe o Duolingo, aquele app que te dá estrelinhas por estudar inglês? Essa é a gamificação em ação: transformar atividades rotineiras em desafios com recompensas.
O problema é quando essa mecânica gera uma falsa sensação de evolução ou te leva ao consumo, seja comprando “skins” no jogo, seja assinando planos premium para não perder a sequência de conquistas. O que era para ser motivador pode virar prisão mental: você precisa se conectar todos os dias, cumprir tarefas, seguir o ritmo… ou falha. Para pessoas mais ansiosas, isso pode ter um impacto bem negativo.
2. Senso de comunidade
O ser humano sempre viveu em grupos, comunidades que compartilham cultura, valores e rituais. E as marcas sabem disso.
Criar um sentimento de pertencimento é uma das estratégias mais eficazes de marketing. Segundo o livro Geração Ansiosa, isso atinge especialmente meninas adolescentes, que costumam ter uma necessidade maior de aceitação social, e pode levar a perda de identidade. Ah! As marcas adoram os jovens com os seu córtices pré-frontais em desenvolvimento.
Empresas exploram esse desejo ao criar comunidades exclusivas, clubes de assinatura, grupos fechados, desafios coletivos. Assim, você sente que precisa ter os mesmos produtos, usar os mesmos filtros, seguir as mesmas rotinas ou ficará de fora. E ninguém quer ficar de fora, certo?
3. Inimigo comum
Nada une mais do que um inimigo em comum. Essa é uma estratégia muito usada na internet: criar identificação através de críticas compartilhadas.
Influenciadores sabem bem disso e, muitas vezes, ganham notoriedade criticando filmes populares, celebridades ou políticos. Essa tática gera engajamento porque provoca emoções fortes, e emoções, como veremos, são o combustível perfeito para manter você conectado e consumindo.
4. Gatilhos mentais
Você já clicou em algo porque estava “quase acabando” ou era “só até hoje”? Bem-vindo ao mundo dos gatilhos mentais: técnicas que exploram vulnerabilidades humanas para induzir uma ação imediata.
Os mais comuns são:
- escassez (“restam poucas unidades”);
- urgência (“última chance!”);
- dor x prazer (“pare de sofrer com isso agora mesmo!”).
Não há problema em mostrar benefícios de um produto, mas usar esses recursos de forma manipuladora leva ao consumo por impulso, algo que afeta mais da metade dos brasileiros, segundo pesquisas. Conhecer os gatilhos ajuda você a agir com consciência, não no automático.
5. Emoções negativas
Medo, insegurança, inadequação. Muitas campanhas são construídas em cima dessas emoções.
A lógica é simples: faça a pessoa se sentir mal, depois ofereça a solução. A sensação de que você não é bonito o suficiente, estilosa o bastante ou “adequado” socialmente pode ser alimentada sutilmente para empurrar um produto ou serviço como solução.
O perigo está em pregar o desconforto para gerar lucro em uma sociedade cada dia mais deprimida.
6. Hiperlinks demais
Os hiperlinks, aqueles links no meio dos textos, têm o objetivo de manter você navegando mais tempo no site. Em teoria, é uma forma de enriquecer a leitura. Na prática, fragmenta sua atenção.
Diferente de um livro com leitura contínua, textos com muitos hiperlinks fazem você saltar de página em página, sem nunca aprofundar o conteúdo. O resultado: leitura superficial e facilmente esquecida.
No meu blog, estou reduzindo esses links no corpo do texto. Prefiro indicá-los ao final, como complemento. Sim, isso vai contra as boas práticas de SEO, usabilidade, tempo de página, métricas e blá-blá-blá. Mas é melhor para sua atenção. E isso, para mim, importa mais.
Para refletir
Usei um tom mais crítico neste post porque é preciso entender como essas estratégias operam, às vezes de forma invisível.
Claro que existem marcas autênticas, que oferecem bons produtos com honestidade. Muitas, inclusive, podem usar essas estratégias para sobreviver num mercado competitivo.
O objetivo aqui não é demonizar o marketing, mas convidar você à consciência.
Reflita antes de comprar. Observe antes de clicar.
E escolha de forma ativa o que você consome: seja um produto, um app, um conteúdo ou até mesmo um influenciador.
Resumo: como as empresas mantêm você engajado (e consumindo)
- Gamificação: transforma tarefas em jogos, mas pode levar ao consumo e ansiedade.
- Senso de comunidade: explora o desejo de pertencer e cria pressão social.
- Inimigo comum: usa críticas compartilhadas para gerar engajamento emocional.
- Gatilhos mentais: escassez, urgência e dor vs. prazer ativam compras impulsivas.
- Emoções negativas: inseguranças são estimuladas para vender soluções.
- Hiperlinks excessivos: fragmentam a leitura e enfraquecem a atenção.
O que achou desse post sem hiperlinks?
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Imagem: Pexels


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