Imagine um ambiente de trabalho onde a produtividade despenca, os pedidos de afastamento disparam e o clima organizacional se torna insustentável. Esse cenário não é futurista, mas sim a realidade atual, evidenciada pelo recorde de afastamentos por problemas de saúde mental.
Um estudo recente revelou que cada vez mais trabalhadores têm se afastado de suas funções devido a crises emocionais. Esse fenômeno não pode ser atribuído apenas às empresas, mas reflete um estilo de vida moderno caracterizado pelo excesso de informação, hiperconectividade e sobrecarga mental.
Tudo isso, pode gerar um impacto na qualidade do sono – um dos fatores essenciais para a saúde mental – e desencadeia uma série de problemas em bola de neve, como explorado no livro Mude Seus Horários, Mude Sua Vida.
Esses dados não apenas alertam para uma crise iminente no mercado de trabalho, mas também indicam uma oportunidade para marcas e empresas se posicionarem estrategicamente.
Estar atento a esses movimentos culturais não é apenas uma questão de empatia, mas um diferencial competitivo para qualquer profissional de comunicação, marketing e vendas.
O ano com menos afastamentos
Um detalhe surpreendente: nos últimos 10 anos, o ano com menos afastamentos por saúde mental foi 2020, exatamente o período de maior estresse global devido à pandemia de COVID-19. Isso nos leva a uma reflexão: o que mudou no comportamento dos trabalhadores nesse período?

A pesquisa mostra que a maior parte dos afastamentos ocorre entre mulheres na faixa dos 41 anos. Essa é uma idade crítica, marcada pela sobrecarga entre a criação dos filhos e o cuidado com pais idosos.
Esse peso recai majoritariamente sobre as mulheres, gerando um nível de exaustão que muitas vezes culmina em problemas de saúde mental. Como parte desse grupo, posso falar com propriedade.
Por outro lado, as mulheres também são mais suscetíveis a pedir ajuda médica, o que colabora com as estatísticas, enquanto homens quando estão com a saúde mental abalada recorrem a vícios e/ou se tornam mais agressivos, o que foi relatado no livro Outlive.
Trabalho remoto: um aliado na saúde mental?
Um dos fatores que podem explicar a redução dos afastamentos em 2020 é o trabalho remoto.
Imagine a rotina tradicional: trabalhar 8 horas por dia, somadas a 1 hora de almoço e mais 2 horas (ou mais) de deslocamento, enfrentando trânsito, transporte lotado, risco de assalto etc. Ao final, sobra pouco tempo para atividades físicas, lazer, cuidado com os filhos, atenção aos pais e descanso adequado. Esse acúmulo de tarefas, aliado à comparação constante com padrões irreais nas redes sociais, pode ser extremamente cruel para a saúde mental.
No meu caso, o home office foi essencial para que eu pudesse continuar minha carreira. Para muitas mulheres, essa possibilidade ainda é inviável, sobretudo nos primeiros anos de vida dos filhos, quando a presença materna é crucial, especialmente para quem opta pela amamentação.
O retorno ao presencial gerou o aumento dos afastamentos?
O gráfico de afastamentos cresce à medida que as empresas retomam o modelo presencial, mas não podemos colocar a responsabilidade em apenas um fator. Isso ocorre somado a um período de queda do poder de compra e aumento da inflação constante. Os benefícios corporativos, como vale-alimentação, não acompanham o encarecimento do custo de vida, gerando ainda mais desgaste.
Além disso, o artigo fala sobre as mulheres terem menores salários e, ainda assim, 49,1% é responsável pelas despesas do lar, somando cansaço e risco econômico.
Outro fator agravante é o bombardeio de notícias negativas promovido pelas grandes mídias, que exploram o sensacionalismo para gerar engajamento. Soma-se a isso o consumo excessivo de entretenimento digital, como maratonas de séries, que substituem momentos de lazer ao ar livre e drenam a energia mental.
Antes da pandemia, também não se falava sobre saúde mental como hoje, o que pode ter feito com que mais pessoas identificassem transtornos e procurassem por ajuda.
Como as marcas podem se posicionar?
Diante desse cenário, algumas marcas já começaram a se movimentar. Um exemplo interessante é a influenciadora Bianca Andrade, a Boca Rosa. Como proprietária de uma marca de maquiagem, provavelmente percebeu que mulheres com a saúde mental abalada tendem a sair menos de casa e, consequentemente, reduzem o consumo de produtos de beleza.
Para fortalecer seu vínculo com o público, passou a criar conteúdos sobre a importância de ficar offline para manter a saúde mental, e de realizar hobbies como uma forma de aliviar a sobrecarga.
A influenciadora ainda ressalta que os homens, em geral, não abrem mão de seus hobbies, enquanto as mulheres frequentemente se colocam em segundo plano. Esse descuido consigo mesmas pode levar a um ciclo de exaustão mental e emocional.
Outro exemplo relevante é o Grupo Boticário, que lançou recentemente o Centro de Pesquisa da Mulher. Em parceria com o Hospital Israelita Albert Einstein, a iniciativa busca aprofundar o conhecimento sobre os aspectos biológicos, hormonais e emocionais que impactam as mulheres ao longo da vida, oferecendo produtos e ações voltadas para o bem-estar.
Já a Estée Lauder está ampliando seu compromisso com o bem-estar ao investir na conscientização sobre os impactos da privação do sono. Para isso, a marca nomeou seu primeiro consultor global em ciência do sono, o Dr. Matthew Walker. A iniciativa inclui a criação de conteúdos educativos em seus canais oficiais, além da participação do especialista em eventos internos e externos, reforçando a conexão entre a qualidade do sono e a saúde da pele.
Mais do que campanhas, uma cultura organizacional saudável
Para as empresas, não basta apenas criar campanhas publicitárias sobre saúde mental. É essencial que o compromisso seja refletido na cultura organizacional.
Identificar e corrigir gargalos que drenam a saúde dos colaboradores, oferecer suporte real e promover um ambiente de trabalho mais equilibrado são atitudes que vão além da ética: são também estratégias financeiramente vantajosas.
Funcionários afastados geram custos, demissões impactam a produtividade e uma reputação corporativa abalada pode ser difícil de recuperar.
O mercado está atento, e as marcas que souberem se posicionar de maneira autêntica e responsável terão um diferencial competitivo significativo, tanto como empregadoras como nas soluções de problemas contemporâneos.


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