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Por muito tempo, roupas de grife, joias e carros esportivos foram os principais indicadores de status social. No entanto, essa realidade está mudando. Com a era das redes sociais e a facilidade de aparentar riqueza por meio de fotos editadas e cenários alugados, os verdadeiros milionários estão buscando outros meios de se diferenciar. E um deles é estar offline.
Já ouvimos muitos especialistas e influenciadores afirmarem que “o offline é o novo luxo“. Inicialmente, isso pode parecer uma referência à dificuldade que a maioria das pessoas tem de se desconectar, seja por trabalho ou pelo vício nas redes sociais. Mas, ao analisar a pesquisa da professora Silvia Bellezza, da Columbia Business School, percebemos que o conceito vai além disso. Estar offline e adotar um estilo de vida mais simples se tornou um novo símbolo de status.
O novo status: menos ostentação, mais significado
A pesquisa de Bellezza, publicada no Journal of Consumer Research, mostra como os sinais de status estão se transformando. Antes, bastava ter uma bolsa Chanel ou um Rolex para demonstrar poder aquisitivo. Mas, em um mundo onde é possível falsificar esses símbolos (muitos promovidos por sites chineses) e onde a ostentação se tornou comum nas redes sociais, a verdadeira exclusividade passou a ser outra: minimalismo, simplicidade e desconexão.
Milionários e celebridades estão adotando uma abordagem mais discreta, evitando exibir riquezas e focando em valores mais profundos, como sustentabilidade, bem-estar e atividades que remetem à simplicidade.
Gisele Bündchen é um exemplo claro dessa nova tendência, apesar de sempre ter agido dessa forma.
Mesmo sendo uma das modelos mais bem pagas do mundo, ela raramente compartilha imagens de itens de luxo. Quando ocorre, geralmente são fotos para campanhas publicitárias das quais fez parte, porém, nada extravagante, totalmente de acordo com sua personalidade.
Seu estilo de vida é fundamentado no minimalismo, caracterizado pela ausência de intervenções estéticas excessivas e pela participação ativa em causas ambientais, além da adoção de práticas como yoga, meditação e alimentação natural. O que antes era considerado algo comum, transformou-se, hoje, em uma forma de distinção social.
Hoje, uma amiga me enviou uma reportagem que traduz bem o que comentei por aqui.
O texto conta que Gisele Bündchen tem levado uma vida ainda mais discreta desde o nascimento do terceiro filho. Na tentativa de evitar os holofotes, ela tem optado por programas reservados em família.
A vizinhança, acostumada com a presença de pessoas famosas, afirma que, para eles, Gisele é apenas mais uma mãe no bairro, exatamente como ela deseja ser vista. Isso mostra que está no lugar certo, vivendo com a discrição que tanto valoriza. E isso, sim, é luxo.
Gisele não precisa exibir sua rotina para lucrar com ela. Apenas vive sua liberdade, conquistada ao longo de uma trajetória sólida, sem precisar se expor.
As seis dimensões do novo luxo
O estudo de Bellezza identifica seis dimensões que definem essa nova forma de status:
- tempo: valorizando itens vintage e experiências atemporais em vez de produtos novos;
- quantidade: minimalismo em vez da acumulação excessiva de bens materiais;
- visibilidade: luxo discreto versus ostentação ostensiva;
- estética: apreciação por produtos artesanais e conceitos como “luxo feio”, em oposição ao padrão de beleza tradicional;
- cultura: valorizando conhecimentos e experiências sofisticadas, em vez de sinais de status populares;
- ritmo de vida: priorizando lazer e bem-estar, ao invés de uma rotina acelerada e competitiva.
Esses elementos demonstram uma mudança na forma como a riqueza é expressa. Não se trata mais de ter, mas sim de ser e viver de maneira autêntica e alinhada a valores pessoais.
Por que o offline se tornou um novo símbolo de status?
A conectividade excessiva faz parte da vida de quase todo mundo, e estar constantemente online se tornou um sinal de dependência digital. Por isso, a capacidade de se desconectar se transformou em algo aspiracional.
Afinal, quem pode se dar ao luxo de passar dias sem precisar responder mensagens, checar e-mails ou postar nas redes sociais? Apenas aqueles que possuem autonomia financeira e profissional para definir suas próprias regras.
Isso explica por que algumas das pessoas mais ricas e influentes do mundo não possuem perfis ativos nas redes sociais ou fazem um uso extremamente controlado delas. O verdadeiro luxo, hoje, é a liberdade de estar presente na vida real sem precisar provar nada para o mundo virtual.
Como as marcas podem se adaptar a essa nova tendência?
Para acompanhar essa mudança, as marcas precisam repensar suas estratégias e priorizar experiências autênticas e significativas.
Produtos que promovem o bem-estar, a sustentabilidade e a simplicidade têm maior apelo nesse novo cenário. Além disso, criar campanhas que enfatizem momentos offline, descanso e um estilo de vida mais conectado com a natureza pode gerar maior conexão emocional com os consumidores.
O marketing do silêncio, em oposição à publicidade invasiva, também pode ser um diferencial, reforçando a exclusividade do produto ao apostar em uma comunicação mais sutil e elegante.
O que podemos aprender com essa tendência?
Essa mudança de perspectiva nos convida a refletir sobre o que realmente valorizamos. Se no passado o desejo era acumular bens para demonstrar status, hoje o desafio é encontrar equilíbrio e significado nas experiências.
Estar offline, cultivar hábitos simples como fazer pão caseiro ou dedicar tempo a práticas de bem-estar são escolhas que, mais do que um símbolo de status, podem trazer mais qualidade de vida.
Portanto, antes de buscar o luxo tradicional, vale a pena considerar: qual é o verdadeiro valor que você deseja agregar à sua vida? E quais marcas representam isso com clareza?
Imagem: Pexels


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