O que são dark patterns e como influenciam suas escolhas online

Dark patterns são práticas de design de interfaces e experiências de usuário (UX) que manipulam, enganam ou influenciam os usuários de maneira a tomar decisões que, de outra forma, não tomariam, geralmente em benefício de uma empresa ou plataforma.

Essas técnicas são projetadas para tirar vantagem da psicologia humana, muitas vezes levando os usuários a realizar ações contra seu melhor interesse, como fazer compras indesejadas, fornecer informações pessoais ou se inscrever em serviços sem querer.

Alguns exemplos comuns de dark patterns incluem:

  1. caixas de seleção pré-marcadas: onde uma opção, como receber newsletters ou permitir o rastreamento de dados, já vem selecionada e o usuário precisa desmarcar, se não quiser;
  2. escassez falsa: indicando que um produto está quase esgotado para pressionar o usuário a comprar rapidamente. Também pode ser utilizado um cronômetro na tela para estimular uma ação rápida e emocional;
  3. navegação confusa: tornando difícil para o usuário encontrar uma maneira simples de cancelar ou sair de um serviço;
  4. enganos nas assinaturas: onde um serviço é apresentado como gratuito ou com um preço promocional, mas cobra taxas ocultas ou exige cancelamento difícil para evitar cobranças após o período inicial.

O uso de dark patterns é amplamente criticado, pois explora vulnerabilidades cognitivas dos usuários, comprometendo a transparência e a confiança online.

Dark patterns nas redes sociais

As redes sociais frequentemente utilizam dark patterns para maximizar o engajamento e a coleta de dados dos usuários. Aqui estão alguns exemplos comuns de dark patterns em plataformas sociais:

  1. notificações incessantes e alarmistas: muitas redes sociais enviam notificações com mensagens urgentes ou alarmistas (por exemplo, “Você tem 10 notificações não lidas!” ou “Seu amigo acaba de postar uma foto!”), criando uma sensação de urgência para que os usuários se envolvam mais, mesmo quando não há um motivo real;
  2. “scroll infinito”: o design de feeds infinitos e o uso de rolagem contínua fazem com que os usuários fiquem mais tempo nas plataformas sem perceber, desencorajando-os de parar ou de tomar decisões conscientes sobre o tempo gasto;
  3. botões de “confirmar” e “cancelar” confusos: em algumas plataformas, as opções para confirmar ou cancelar ações podem ser invertidas ou disfarçadas de forma a induzir o usuário a escolher a opção errada. Por exemplo, um botão de “Excluir conta” pode ser difícil de encontrar ou ser confundido com outro botão mais chamativo de “Confirmar” em um pop-up;
  4. assinaturas com renovação automática: algumas redes sociais oferecem “testes gratuitos” ou planos com benefícios extras, mas a renovação automática pode ser ativada de forma que o usuário não perceba. Isso leva a cobranças inesperadas, dificultando o cancelamento;
  5. ambiguidade nas permissões de privacidade: plataformas podem fazer com que os usuários revelem informações pessoais ou ativem permissões de rastreamento sem deixar claro o impacto disso. Um exemplo é solicitar permissão para acessar a localização ou a agenda de contatos, sem explicar corretamente o uso dessas informações;
  6. “escolhas forçadas” com trocas de configurações: algumas redes sociais modificam suas configurações de privacidade ou notificações automaticamente, como quando uma plataforma muda a configuração de visibilidade de suas postagens para “público” por padrão, exigindo que o usuário altere manualmente caso queira restringir o acesso.

Esses padrões, quando utilizados de forma intencional, buscam aumentar a retenção e o engajamento nas redes sociais, mas muitas vezes prejudicam a experiência do usuário, tornando-a manipuladora e menos transparente.

Gamificação como dark pattern

A gameficação, utilizada por aplicativos para manter o engajamento, pode ser utilizada como dark pattern das seguintes formas:

  • exploração da psicologia humana: os aplicativos que monitoram sequências de uso diário (como o Duolingo) podem criar uma pressão psicológica para que o usuário continue acessando o app, não por vontade genuína de aprender, mas para não “quebrar a sequência”;
  • dependência ou culpa: se o design gera sentimentos negativos, como culpa ou ansiedade, quando o usuário não consegue cumprir a meta, isso pode ser interpretado como um dark pattern;
  • manipulação sutil: oferecer recompensas que incentivam compras ou dificultar a saída do sistema também pode indicar práticas questionáveis.

Contexto do Duolingo

O sistema de “ofensiva” do Duolingo pode ser motivador para muitas pessoas, mas também pode gerar estresse ou criar uma relação menos saudável com o aprendizado. No entanto, a transparência da empresa e a opção de usar o aplicativo gratuitamente ajudam a mitigar as críticas de que se trata de uma estratégia manipuladora.

Embora a empresa faça brincadeiras nas redes sociais sobre o incentivo a manter ofensivas, é importante considerar que, em meio à nossa rotina já repleta de estímulos e demandas, esse método pode ser desestimulante para alguns perfis.

Ainda assim, o Duolingo é um exemplo de como atrair usuários com notificações criativas, algo ótimo para quem deseja manter o foco no aprendizado. Por outro lado, pode ser prejudicial para quem busca reduzir distrações e se concentrar na vida real, com menos telas.

Curiosamente, muitas dessas notificações são programadas para aparecerem nos momentos do dia em que você tem o costume de abrir o aplicativo, ou seja, um momento em que há maior probabilidade de clicar na notificação.

Portanto, vale refletir: você está usando o app ou é o app que está usando você?

Como se proteger de dark patterns

Proteger-se de dark patterns exige conscientização e a adoção de hábitos mais críticos e reflexivos ao interagir com plataformas digitais. Aqui estão algumas dicas de como se proteger:

  1. esteja atento ao design de interfaces: fique atento a sinais de manipulação, como botões difíceis de identificar ou ações aparentemente simples que, na realidade, são enganosas. Ao se deparar com opções de “aceitar” ou “cancelar”, analise cuidadosamente as consequências de cada escolha;
  2. leia os termos e condições: embora muitas vezes sejam longos e complicados, é importante ler as políticas de privacidade e os termos de uso antes de aceitar. Busque por pontos relacionados a dados pessoais, coleta de informações e permissões de acesso;
  3. revise configurações de privacidade e notificações: muitas plataformas alteram as configurações automaticamente para maximizar o engajamento ou o compartilhamento de dados. Periodicamente, revise suas configurações de privacidade e notificações para garantir que estão de acordo com suas preferências;
  4. cuidado com “ofertas irresistíveis”: fique alerta a promoções de “oferta única”, “por tempo limitado” ou “última chance”, que podem induzi-lo a fazer uma compra impulsiva. Avalie com calma se realmente precisa do produto ou serviço;
  5. desconfie de processos de cancelamento difíceis: se você deseja cancelar uma assinatura ou serviço, esteja atento a processos complicados ou ocultos. Se a plataforma tornar o cancelamento difícil, pode ser um indício de dark pattern. Pesquise por tutoriais ou entre em contato com o suporte para garantir o cancelamento;
  6. use ferramentas de bloqueio de rastreamento: considere o uso de extensões de navegador ou ferramentas que bloqueiam cookies de rastreamento ou scripts de publicidade. Isso pode diminuir a coleta de dados e a manipulação baseada em seus comportamentos online;
  7. desconfie de opções predefinidas: se uma opção já vem marcada ou é difícil de desmarcar (como receber newsletters ou permitir rastreamento de dados), desmarque-a. Muitas vezes, as empresas predefinem essas opções para aumentar o engajamento ou coletar mais dados;
  8. atenção ao “scroll infinito” e outros gatilhos psicológicos: esteja ciente de que plataformas como redes sociais usam o design de “scroll infinito” para manter você rolando e engajado por mais tempo. Defina limites pessoais sobre quanto tempo você deseja gastar e faça pausas regulares;
  9. exija maior transparência das plataformas: apoie e incentive práticas que exigem maior transparência das empresas sobre como os dados são usados e as decisões de design são tomadas. A pressão social pode levar a mudanças nas políticas e nos designs dessas plataformas.
  10. se algo te gera incômodo ou ansiedade, evite: muitos aplicativos podem pressionar, mesmo que para gerar bons hábitos, um comportamento compulsivo. Se não se sentir bem procure outros meios para atingir suas metas.

A chave para se proteger dos dark patterns é estar sempre alerta e questionar as intenções por trás das interfaces digitais, garantindo que suas decisões sejam baseadas em escolhas conscientes e não em manipulações.

E aí? Você já caiu em algum dark pattern? Qual é o mais nocivo na sua opinião?

Imagem: Pexels


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2 respostas para “O que são dark patterns e como influenciam suas escolhas online”.

  1. […] fatores como comportamento humano, branding, utilidade, contexto cultural, pertencimento, status, design, escassez e, em muitos casos, memória afetiva. Por isso, a precificação está muito mais […]

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  2. […] crie obstáculos para sua compra: cancele e-mails promocionais, utilize menos as redes sociais e/ou deixe de seguir contas que estimulam o consumo, delete aplicativos de compra do smartphone ou limite o seu tempo de uso para ajudar a eliminar o mau hábito; […]

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