A hipocrisia das tendências: o que realmente está por trás do comportamento da gen Z?

Você já se perguntou por que tantas contradições parecem dominar o mundo de hoje?

A geração Z, frequentemente celebrada como a mais consciente em questões ambientais e sociais, é também uma das maiores consumidoras de fast fashion, guiada por tendências no TikTok.

Essa mesma geração critica o excesso de tempo nas redes sociais, mas continua aumentando sua presença online. Eles lutam por uma saúde melhor, enquanto enfrentam crises de saúde mental cada vez mais desafiadoras.

E, em um momento de boom de vendas de Bíblias, a internet parece estar cada vez mais desconectada de valores cristãos.

O que está por trás dessas aparentes incoerências? Por que há tanta distância entre discurso e prática? Vamos explorar juntos essas questões e tentar compreender a complexidade dessa realidade.

Bolhas e a ilusão da representatividade

Primeiro, é importante lembrar: somos mais de 7 bilhões de pessoas no mundo. É impossível definir um padrão de comportamento ou posicionamento predominante.

Cada indivíduo tem vivências únicas. No entanto, as redes sociais nos colocam em bolhas que amplificam certas ideias e criam a ilusão de que o comportamento do nosso círculo representa o mundo. Na verdade, essa é apenas uma amostra moldada por algoritmos que reforçam o que já consumimos.

Além disso, muitas pesquisas utilizadas para apontar tendências têm limitações. Elas são baseadas em amostragens que nem sempre refletem a realidade do todo.

Imagine que uma empresa envie uma pesquisa para 12 mil clientes, mas apenas 4 mil respondam. A pesquisa representa a opinião dos 12 mil ou apenas daqueles que se deram ao trabalho de responder?

Mais ainda, o meio pelo qual a pesquisa é feita influencia o resultado.

Se ela é enviada por e-mail ou pela rede social, é provável que apenas quem prefere esses meios de comunicação responda. Pessoas que priorizam um contato telefônico ou presencial podem ignorá-la completamente, o que distorce a representatividade.

O espetáculo da virtude nas redes

Outro fator importante é a sinalização de virtude. Nas redes sociais, muitos defendem causas não por engajamento genuíno, mas para ganhar curtidas e aprovação social. Isso cria uma falsa percepção de que há uma mobilização coletiva em torno de determinados temas, quando, na realidade, muitos não estão realmente engajados.

O livro Todo Mundo Mente, de Seth Stephens-Davidowitz, aborda como as pessoas mentem em pesquisas para parecerem melhores ou mais engajadas. Dados de buscas no Google frequentemente revelam mais sobre o comportamento real das pessoas do que suas respostas em pesquisas.

Um exemplo: se você perguntar a alguém se prefere marcas ambientalmente responsáveis, a resposta será “sim”. Mas, na prática, essa mesma pessoa pode ser uma consumidora ávida de achadinhos da Shein, sem nunca investigar o impacto ambiental dessa marca.

Embora pesquisas possam apontar tendências, elas são apenas reflexos de uma bolha específica. Para entender o comportamento geral, é necessário observar, e não apenas perguntar. As ações reais das pessoas falam mais do que suas palavras ou respostas em formulários.

Portanto, sempre que ouvir frases como “a geração Z faz isso” ou “a geração Y faz aquilo”, desconfie. Pesquisas refletem vieses, confirmam pontos de vista e, muitas vezes, ignoram a complexidade da realidade.

Precisamos de mais dados, contextualização, saber como essas pessoas foram abordadas, por qual meio, em quais cidades, tudo isso interfere nas perspectivas.

A realidade do consumo sustentável

Há também uma falta de conhecimento sobre certas práticas, como a de sustentabilidade, que pode levar a pessoa a acreditar que possui uma conduta favorável quando não a tem.

Muitos pensam que estão contribuindo ao escolher embalagens recicláveis ou produtos de vidro em vez de plástico, mas ignoram os desafios reais da reciclagem. Como foi citado no documentário A Conspiração Consumista.

Por exemplo, embalagens plásticas precisam ser agrupadas por cor para serem recicladas. Frascos roxos ou de cores específicas raramente são reaproveitados e acabam em aterros sanitários. Vidros, por sua vez, só fazem diferença se forem reutilizados ou retornáveis; do contrário, também vão parar no lixão.

Essas informações muitas vezes só chegam até nós por estudo profundo ou diálogo com quem está na linha de frente, como catadores de materiais recicláveis, que priorizam alumínio e papelão, itens mais valorizados nesse mercado.

Conclusão: seja observador e crítico

No mundo de hoje, com o volume incessante de informações que recebemos diariamente, exercitar o pensamento crítico é mais do que um hábito — é uma prática ativa e consciente.

É essencial questionar tendências, analisar o comportamento real das pessoas e evitar o viés de confirmação. Afinal, a realidade, por mais complexa ou desafiadora que seja, sempre ultrapassa as simplificações de qualquer pesquisa ou moda passageira.

Para alcançar um entendimento mais profundo, é preciso ir além da absorção passiva de informações. Observar, refletir e vivenciar são caminhos indispensáveis. Aceitar tudo que confirma suas crenças sem questionar pode levar a um empobrecimento intelectual — o chamado brain rot.

Por isso, sugiro que você reduza o consumo de informações superficiais e passe a buscar fontes mais enriquecedoras, como a literatura. Além de exigir maior esforço mental, ela oferece perspectivas mais sólidas e duradouras. E no mundo de hoje, essa é uma vantagem valiosa.

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Imagem de capa: Pexels


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4 respostas para “A hipocrisia das tendências: o que realmente está por trás do comportamento da gen Z?”.

  1. […] Porém, as pesquisas tradicionais muitas vezes não captam o que realmente acontece. O que as pessoas dizem e o que fazem são coisas diferentes. […]

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  2. […] Não se deixe levar pela emoção do momento: muitas notícias e polêmicas perdem força rapidamente, mas podem causar reações exageradas em quem está imerso na bolha digital. […]

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  3. […] empresa, percebi que o foco das peças se ajustou ainda mais para as preferências da Geração Z. Ah, a Gen Z… parece que todo mundo só quer saber dela hoje em […]

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  4. […] grande erro é criar o relatório utilizando dados que apenas reafirmam uma ideia pré-determinada. Isso ocorre quando a pessoa seleciona apenas informações que reforçam um pensamento ou ideia. […]

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