As redes sociais começaram como ferramentas empolgantes e, para muitos, ainda são uma vitrine indispensável. Mas para vários profissionais de marketing, elas têm se transformado em algo bem mais complicado: uma prisão. Este texto não é para ganhar engajamento ou aumentar as métricas. É um desabafo sobre o cansaço que esse cenário causa para quem depende disso para o trabalho.

Minha história com redes sociais
Minha relação com redes sociais começou no Orkut, lá na época dos convites exclusivos. No início, era divertido. As comunidades eram uma novidade, as interações eram leves. Mas, com o tempo, o excesso de estímulos me esgotou. Fechei minha conta e busquei refúgio em blogs de humor, maquiagem e moda, onde eu tinha mais controle do que consumia.
Foi a mesma coisa com o Facebook, Twitter e outras plataformas: uma mistura de curiosidade, overdose de conteúdo e, por fim, abandono.
Sempre gostei de escrever. Desde criança, eu sonhava em ser autora de histórias, livros ou artigos para jornais. Escolhi o curso de Comunicação acreditando que seguiria por esse caminho. Mas o mercado de marketing me levou de volta às redes sociais – e, hoje, sair desse ciclo parece impossível.
O marketing se tornou terreno fértil para o burnout
Produzir conteúdo em massa, acompanhar tendências e buscar engajamento se tornaram exigências diárias para quem trabalha com marketing. As redes sociais criaram um mercado hipercompetitivo, onde quem tem mais dinheiro domina os feeds com anúncios, enquanto criadores de conteúdo enfrentam longas jornadas apenas para manter as contas em dia.
E ainda existe o mito do “celular e um sonho”, aquela ideia de que qualquer pessoa pode enriquecer no marketing digital apenas com boas ideias. Mas a realidade é outra. Criamos conteúdos que amanhã serão esquecidos, enquanto a pressão por se destacar continua esmagando muitos profissionais.
Hoje, a comunicação digital é dominada por excessos:
- excesso de informações, que fragmentam nossa atenção;
- excesso de métricas, que reduzem o valor do trabalho a números;
- excesso de canais, que obrigam o criador a estar em todos os lugares ao mesmo tempo.
O resultado? Uma sensação constante de insuficiência. Trabalhar duro nem sempre é o suficiente, porque o sucesso depende de fatores externos como algoritmos, relevância do tema ou sorte.
Quando o trabalho perde o valor
Nada é mais frustrante do que investir tempo e esforço em um trabalho criativo que simplesmente não tem o impacto esperado. É o temido “flop”. Não é apenas uma questão de vaidade, é o peso de ter seu trabalho julgado por critérios que, muitas vezes, estão fora do seu controle.
E mesmo sabendo disso, a culpa aparece. Nos perguntamos: onde eu errei? Será que eu sou bom o suficiente?
Enquanto isso, o LinkedIn destaca apenas os casos de sucesso. Os erros, as dificuldades e as desistências ficam invisíveis. Isso reforça a falsa ideia de que todos podem vencer, desde que se esforcem o suficiente – o que só aumenta o desgaste.
Imagina esse momento:

A rede social se tornou a prisão do profissional de marketing
As redes sociais não são mais ferramentas, são trincheiras. O algoritmo dita o ritmo, e qualquer pausa pode parecer um atraso imperdoável. O trabalho parece nunca acabar: criar conteúdo, acompanhar tendências, monitorar métricas, responder comentários e começar tudo de novo.
A competição é desleal. Pequenos criadores e negócios precisam se desdobrar para competir com marcas que possuem orçamentos altos. A promessa de que basta criatividade e constância é um mito, o sucesso também depende de dinheiro, timing e sorte.
O que está em jogo
O impacto das redes sociais vai além do cansaço psicológico. Elas drenam a criatividade e afetam diretamente a saúde mental. A cada ideia que viraliza, há dezenas de outras que falharam. Mas o mercado não aceita bem o fracasso.
As empresas, por sua vez, esperam resultados rápidos e gráficos sempre em alta, ignorando o peso que isso tem sobre quem está nos bastidores. E mesmo quando uma campanha dá certo, a recompensa é efêmera. Logo vem o próximo desafio.
Como romper esse ciclo?
Ainda me renovo ao saber que meu trabalho pode realmente ajudar alguém – seja um comentário sincero, seja uma ONG utilizando um material rico que criei. Esses momentos lembram por que comecei. Mas o peso das métricas continua lá, inescapável.
Talvez seja hora de repensarmos o ritmo e o formato do marketing digital. Podemos priorizar qualidade em vez de quantidade, equilíbrio em vez de esgotamento. Sabemos que no final, a única coisa que vale é o lucro e o consumo. Custe o que custar.
Que esse texto seja uma reflexão. Para mim, para você e para um mercado que dificilmente vai mudar.
As redes sociais são para todos, mas nem todos são para as redes sociais. Espero um dia não precisar mais delas para fazer o meu trabalho, acredito que esse seja o sonho de muita gente, tipo os profissionais da Del Valle.

Às vezes não sei se isso é uma nova tática de marketing (que apela para emoções negativas) ou se são os profissionais de comunicação pedindo socorro.


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