Comprar muitos cursos não vai te fazer aprender mais

Uma das grandes bênçãos de se manter longe das redes sociais é não ser bombardeado, o tempo todo, por anúncios de cursos, mentorias e assinaturas milagrosas. Quem está fora desse fluxo escapa daquele discurso persuasivo, quase hipnótico, dos influenciadores vendedores de curso, que falam tanto, com tanta convicção, que acabam nos convencendo de que precisamos daquilo para evoluir.

O resultado é uma pilha de cursos comprados por impulso e abandonados antes da metade. Dinheiro jogado fora.

Às vezes, quando vejo comentários elogiando excessivamente esses cursos, fico pensando se, no fundo, não existe ali um pensamento maquiavélico e calculista do tipo: “Já perdi meu dinheiro com isso, então que você perca também”. Uma espécie de validação coletiva do próprio arrependimento.

Antes que alguém se sinta atacado, vale deixar claro: não sou contra quem vende cursos online. Muitos são realmente válidos. Ensinar, aliás, é uma forma muito nobre de ganhar a vida: gera renda pessoal, capacita pessoas a criarem sua própria fonte de renda e contribui para o crescimento da economia.

O problema começa quando se mexe com a cabeça das pessoas para fazê-las consumir algo que elas não precisam de verdade, ou que poderiam aprender de forma muito similar, e até melhor, com conteúdos gratuitos disponíveis na internet.

E é aqui que entra um ponto delicado: a nossa dificuldade em aprender de forma autodidata.

O problema não é falta de conteúdo. É o modelo mental de aprendizado.

Fomos educados dentro de um modelo que prioriza teoria, conceitos, leitura e memorização. A ideia de que “quanto mais eu leio, mais eu entendo”. Só que isso ignora completamente a prática, a resolução de problemas reais e a aplicação no dia a dia.

Aprender de forma autodidata exige disciplina. No começo, aprender algo novo costuma ser chato mesmo. É confuso, desconfortável, parece que nada faz sentido. Por isso a disciplina é tão importante no início. Com o tempo, conforme você começa a entender e a aplicar, tudo fica mais interessante.

Depois da base mínima, o caminho deveria ser sempre o mesmo: qual problema isso resolve na minha vida?

Um exemplo clássico é o inglês. Muita gente tenta aprender, mas insiste em começar (e ficar presa) na gramática. Ler gramática não te deixa fluente. O ponto central é outro: por que você quer falar inglês?

  • Para conversar com pessoas?
  • Para assistir vídeos no YouTube?
  • Ver filmes sem legenda?
  • Trabalhar fora?
  • Viajar?

Comece pelo objetivo. Encontre pessoas para conversar, ou use inteligência artificial. Consuma vídeos, filmes e conteúdos em inglês. Pesquise como são entrevistas em empresas americanas ou europeias. Entenda a cultura dos lugares onde você quer trabalhar ou viajar. Isso é aprendizado ativo.

Menos consumo, mais foco

Outro ponto essencial do aprendizado autodidata é o foco. Uma coisa de cada vez. Pular de um tema para outro, tentando abraçar o mundo, só cria a sensação constante de que você nunca sabe o suficiente.

Evite também a armadilha da comparação. Compare-se apenas com você mesmo:

  • com quem você era no mês passado,
  • no ano passado.

Registre sua evolução. Ver progresso real é um dos maiores motivadores para continuar. Uma forma legal, e bem simples, é uma vez ao ano escrever uma carta para você mesmo com suas expectativas e suas realizações.

Para isso, indico o site Future Me.

Aprender de graça também é uma forma de se conhecer melhor

O aprendizado gratuito e autodidata tem outra vantagem enorme: ele ajuda você a descobrir seus verdadeiros interesses antes de sair investindo dinheiro. Quando chegar o momento de pagar por algo, você estará muito mais seguro, informado e consciente da sua decisão.

Vou te passar uma proposta prática:

  • Coloque como meta para o próximo ano não comprar nenhum curso, a menos que seja uma exigência da empresa onde você trabalha.
  • Não comprar livros que não estejam diretamente ligados ao seu objetivo atual. E se for para comprar, só faça isso depois de ver algumas resenhas, talvez não haja a necessidade da leitura integral. Pode pegar emprestado e pedir de presente.
  • Não assinar plataformas enquanto ainda existir conteúdo gratuito de qualidade disponível.

Se ainda assim pensar em comprar, reserve esse dinheiro em uma caixinha do banco e espere. Dê tempo para a empolgação passar. Marketing vive de urgência artificial. Não ceda a ela.

O jogo está mudando. As pessoas estão acordando. E, a cada dia, fica mais difícil viver apenas de vender promessas embaladas em cursos que quase ninguém termina.

Aprender melhor não passa por consumir mais. Passa por aplicar mais.

Fica essa reflexão para o último post do ano!

Até a próxima!

A imagem deste post foi criada com auxílio de inteligência artificial por meio do Sora.


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