Careless People, livro de Sarah Wynn-Williams, é mais do que um livro de memórias sobre trabalhar no Facebook (Meta) durante os anos de expansão global da plataforma. É um testemunho sobre idealismo, ambição, poder e as consequências humanas de uma cultura que promete mudar o mundo, mas nem sempre está disposta a assumir a responsabilidade por isso.
A autora, que entra na empresa acreditando em impacto social positivo, relata como esse idealismo vai sendo corroído por decisões corporativas focadas em crescimento, lucro e influência política.
O livro revela os bastidores de uma organização que acumulou poder global muito rapidamente, e que, por isso mesmo, tomou decisões com efeitos profundos sobre informação, política e relações humanas.

Idealismo de fachada e o pragmatismo do lucro
Wynn-Williams descreve a trajetória clássica de muitos profissionais de tecnologia: começam acreditando que as plataformas digitais podem conectar pessoas, democratizar informação e promover diálogo. Com o tempo, porém, percebem que essas missões inspiradoras servem também como narrativa interna para justificar expansão acelerada, entrada em mercados de risco e coleta crescente de dados.
A autora mostra como o discurso idealista convive com metas agressivas e com uma lógica de “crescimento a qualquer custo”. O resultado é uma tensão permanente entre o que a empresa diz defender e o que, de fato, prioriza.
Quem é Sarah Wynn-Williams e o que ela fazia no Facebook?
Antes de lançar Careless People, Sarah Wynn-Williams (advogada) ocupou durante seis anos o cargo de Diretora Global de Políticas Públicas do Facebook. Na prática, isso significava ser a ponte entre a empresa e governos ao redor do mundo. Ela participava de negociações com autoridades, interpretava impactos regulatórios e ajudava a orientar a expansão global da plataforma em temas como privacidade, discurso de ódio, legislação digital e políticas de conteúdo.
Em seu livro, Sarah relata como era viver esse papel “no olho do furacão”. Ela descreve tensões internas, disputas políticas, decisões corporativas movidas por crescimento acelerado e dilemas éticos que, segundo ela, acabavam ignorados em nome dos números.
Seus relatos incluem bastidores de crises como a escalada de violência em Myanmar e os esforços da empresa para operar sob regimes altamente censurados. É um olhar de dentro (crítico, incômodo e, muitas vezes, contraditório) sobre como uma das maiores empresas de tecnologia do mundo lidava com poder, influência e responsabilidade.
O episódio de Myanmar
No livro Careless People, Sarah Wynn-Williams relata como o Facebook se tornou a principal fonte de informação em Myanmar ao entrar no país sem preparar a estrutura necessária para moderar conteúdos locais.
Com pouquíssimos moderadores que falavam birmanês e quase nenhum investimento em segurança, discursos de ódio e desinformação contra a minoria Rohingya se espalharam sem controle. Sarah descreve ter alertado repetidamente a liderança sobre o risco crescente, mas suas preocupações foram ignoradas.
O resultado foi que a plataforma acabou contribuindo para a escalada de violência no país, um exemplo extremo de como decisões internas e prioridades de crescimento podem gerar impacto real fora da tela.
O poder sem contrapesos das big techs
Um dos pontos mais fortes do livro é a crítica ao poder concentrado das plataformas digitais. Segundo Wynn-Williams, o Facebook operava (e ainda opera) com um alcance que rivaliza com o de governos, mas com mecanismos de responsabilização muito mais frágeis.
Ela descreve episódios em que decisões internas facilitaram a propagação de desinformação, manipulação de grupos vulneráveis e até agravamento de conflitos em países politicamente instáveis. A autora levanta uma pergunta: quem controla o fluxo de informação global, e com que critérios éticos?
A cultura corporativa do Facebook segundo Wynn-Williams
Outro eixo do livro é a cultura interna da empresa. A autora expõe um ambiente extremamente competitivo, permeado por retórica de empoderamento, mas que, na prática, reproduz desigualdades, especialmente para mulheres, que sentiu na pele enquanto estava grávida.
Ela relata casos de discriminação, desgaste emocional, pressão para longas jornadas e uma expectativa informal de sacrificar vida pessoal em nome da empresa. A narrativa evidencia uma contradição comum em grandes corporações: benefícios e prestígio coexistindo com desumanização e desigualdade.
Dados, atenção e a transformação das pessoas em produto
Wynn-Williams também discute o modelo de negócio que sustenta as plataformas: a captura da atenção e a coleta massiva de dados. Ela descreve como algoritmos foram desenhados para estimular emoções intensas, prender o usuário e maximizar o tempo de tela, mesmo quando isso significava explorar vulnerabilidades psicológicas, especialmente de jovens.
Isso foi citado no livro A Geração Ansiosa. Clique aqui para mais detalhes.
A pergunta central parece ser: até que ponto é ético transformar comportamento humano, identidade e privacidade em insumos de negócio?
O custo pessoal de participar desse sistema
Um dos aspectos mais sensíveis do livro é o relato dos impactos pessoais. A autora fala sobre cansaço, dilemas éticos, conflitos familiares e a perda de sentido ao perceber que estava contribuindo para um sistema que já não refletia seus valores.
O livro se torna, então, não apenas uma denúncia institucional, mas um retrato íntimo do que acontece quando consciência e carreira entram em choque.
Sobre o futuro da tecnologia
Ao final, Careless People não é apenas sobre o Facebook. É sobre as estruturas de poder que moldam a tecnologia contemporânea e sobre como escolhas tomadas dentro de escritórios no Vale do Silício repercutem em escala global.
O livro convida o leitor a refletir sobre temas que vão além da empresa:
- Quem decide o que vemos?
- Quem lucra com isso?
- E quem assume responsabilidade quando as consequências aparecem?
É um lembrete de que tecnologia não é neutra e que, por trás de tudo isso existe um aparato complexo de decisões humanas, algumas visionárias, outras perigosamente descuidadas.
Careless People não tem versão em português, e a edição original ainda chega ao Brasil com um preço pouco amigável. Por isso, espero que este resumo te ajude a entender melhor as ideias centrais do livro.
As informações que reuni aqui vêm de análises e resumos publicados em sites estrangeiros. Mas se quiser adquirir o livro, pode utilizar o link abaixo:

As imagens deste post foram criadas com auxílio de inteligência artificial por meio do Sora.


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