A armadilha do “ocupado”: como desperdiçamos tempo e dinheiro fingindo produtividade

Inspirado no texto “How to Lose Time and Money”, de Paul Graham.

Paul Graham é um ensaísta, programador e investidor americano, conhecido por ser um dos fundadores da Y Combinator, a aceleradora que impulsionou empresas como Airbnb, Dropbox e Reddit.

Além de suas contribuições para o mundo da tecnologia, Graham também escreve textos provocativos sobre comportamento, produtividade e escolhas de vida. E foi um desses textos, chamado “How to Lose Time and Money”, que me fez parar para refletir e escrever este post.

No ensaio, ele fala sobre como as pessoas, ao ganharem muito dinheiro, acabam não o perdendo necessariamente em festas ou compras extravagantes, mas sim em “investimentos ruins”, que muitas vezes são apresentados como boas oportunidades.

Isso acontece porque os alarmes internos que nos informam sobre o excesso e o desperdício não disparam quando estamos “investindo”. Afinal, não parece um gasto, parece algo sensato, até maduro.

Vou te dizer uma coisa: carro não é investimento, a menos que ele traga um retorno maior do que os custos que você tem com ele, no caso de uso para trabalho. Roupa também não é investimento. E procedimentos estéticos, definitivamente, também não são. Tudo isso pode ser útil, trazer conforto ou prazer, mas não confunda com investimento.

O ponto mais alto do texto é quando ele compara isso à forma como também usamos nosso tempo.

Segundo Graham, a maneira mais perigosa de desperdiçar tempo não é com diversão, é com trabalho falso.

Sim, aquele tipo de “trabalho” que nos faz sentir ocupados, mas não nos leva a lugar nenhum.

Por exemplo…

Já me peguei rolando o feed do LinkedIn como se estivesse me atualizando. Lendo títulos, passando os olhos por posts longos como se estivesse estudando o mercado. Quando percebi, não tinha absorvido absolutamente nada. Só estava ali, sentada em frente ao computador, fingindo para mim mesma que estava sendo produtiva.

Talvez, se estivesse sentada no sofá, tomando chá, apenas relaxando, teria feito algo mais útil com meu tempo, embora não pareça um trabalho de “foco” quando você não está olhando fixamente para uma tela.

Quando estar ocupado é só um modo elegante de evitar a vida

A gente preenche a agenda com tarefas que exigem pouco esforço mental, mas nos dão a falsa sensação de utilidade.

  • Ver mil vídeos sobre investimento no YouTube, mas não aplicar nada.
  • Ler newsletters que só acumulam na caixa de entrada, sem trazer nenhum insight novo.
  • Fazer faxinas excessivas na casa como se o mundo fosse acabar amanhã.
  • Rolar o feed do Twitter sob o pretexto de “estar por dentro” das notícias.
  • Passar horas criando planilhas para fazer controle de tudo, mas nunca utilizar.
  • Ler um livro de autoajuda, que contém apenas informações que você já sabe, genéricas demais ou difíceis de aplicar na vida real.
  • Pesquisar por vários minutos (ou horas) produtos específicos em marketplaces.
  • Abrir cada e-mail que chega.
  • Estudar por um aplicativo de idiomas, mesmo sem sentir progresso real naquilo.
  • Responder notificações e mensagens instantaneamente.
  • Organizar pastas.
  • Marcar checklists em aplicativos de produtividade… só para sentir que se está no controle.

Se identificou com algumas dessas tarefas?

Essa rotina ocupada demais, mas, no fundo, vazia, é a porta de entrada para uma sensação de inutilidade, mesmo fazendo aparentemente tantas coisas.

Nunca esqueci de uma palestra, de 2019, do Marcos Piangers sobre trabalho e paternidade, em que ele contou que muitos colegas de empresa diziam às esposas que estavam fazendo hora extra, quando, na verdade, estavam no Facebook, apenas para evitar voltar para casa e encarar as tarefas domésticas e os cuidados com os filhos.

Isso ilustra perfeitamente como estar “ocupado” pode ser apenas uma forma disfarçada de fugir da vida real. E as redes sociais têm um papel enorme em alimentar esse tipo de escapismo.

Estamos tão condicionados a associar produtividade a estar em frente a uma tela que esquecemos de perguntar: o que estou realmente fazendo aqui? O que estou tentando evitar?

Mas será que estamos mesmo produzindo ou apenas escapando da vida real? Da conversa difícil, do projeto que exige esforço mental, do silêncio que nos força a refletir? Do relaxamento?

Assim como o dinheiro, o tempo também pode ser desperdiçado silenciosamente, e com muito mais frequência do que imaginamos.

Por isso, meu convite hoje é simples: observe como você tem gasto seu tempo e seu dinheiro. Anote. Registre. Reflita. Não de forma paranoica, mas para tomar consciência.

Esse é o primeiro passo para qualquer organização, financeira e de vida.

Afinal, tempo e dinheiro são dois dos nossos ativos mais valiosos, e estão profundamente conectados: você pode trocar seu tempo por dinheiro (com o trabalho), e pode conquistar mais liberdade de tempo justamente por ter dinheiro bem investido de verdade (com um bom planejamento financeiro).

No fim, saber equilibrar esses dois recursos é o que define uma vida mais leve, consciente e próspera.

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