Ninguém gosta de criar conteúdo, mas todos estão sentindo essa obrigação

Você já percebeu como muitas pessoas estão exaustas de criar conteúdo profissionalmente? A razão, talvez, não esteja apenas no volume de trabalho, mas na forma como estão criando: não do jeito que gostariam, mas do jeito que a internet manda.

Enquetes para aumentar o engajamento. Nada de legendas longas no Instagram. Agora é a vez dos vídeos curtos. Repita a palavra-chave X vezes para o Google te encontrar. Você precisa estar em todos os canais para ser visto.

Essas fórmulas sufocam. Matam a criatividade antes mesmo dela nascer.

Além disso, na maioria dos casos, a produção de conteúdo está fora do escopo de trabalho da pessoa. Um dentista, uma psicóloga, um personal trainer, são capacitados em suas áreas específicas e com atividades de publicidade e vendas podem acabar acumulando tarefas de habilidades que podem não ter afinidade.

Nem todo mundo consegue dominar a linguagem das redes mesmo sendo excelentes nas áreas em que atuam. Então, como criar com autenticidade em um ambiente movido métricas, performance, validação social o tempo todo?

Se Michelangelo estivesse vivo hoje, talvez alguém dissesse que ele demora demais para finalizar suas obras, e o aconselhasse a largar os mármores e começar um canal no TikTok com tutoriais de arte. “Esculturas não engajam mais. Faça um vídeo falando sobre pinturas em xícaras de porcelana.”

Será que teríamos a Capela Sistina? Ou ele se perderia tentando ser o que não era, sufocado pela demanda de agradar uma audiência volátil?

Sim, dizem que adultos fazem o que precisa ser feito, não o que gostam. Mas qual a chance real de sucesso (ou de realização) fazendo algo que você detesta?

Quando a criação de conteúdo passa a atrapalhar de alguma forma sua atividade principal é hora de parar e repensar.

“Fingir até conseguir” pode não ser uma boa estratégia. Melhor focar em especializar na sua área de atuação do que em engajar. Talvez seja por isso que tantos conteúdos pareçam vazios, estão ali apenas para existir, não para transformar de verdade.

Nem todo mundo nasceu para criar conteúdo online. Ser excelente em algo não deveria depender de validação digital. Ainda assim, ouvimos por aí que, se você não está online, você não existe (geralmente quem diz isso quer vender um serviço ou um curso).

Mesmo sabendo que muitos conteúdos são estrategicamente produzidos para dar credibilidade a produtos ou serviços medíocres, ainda há quem insista em fazer escolhas baseadas em imagens retocadas e falas treinadas para serem persuasivas, proferidas por pessoas eloquentes. Isso, muitas vezes, leva o sucesso aos empreendedores errados.

Nas redes sociais, esse palco de aparências, profissionais sentem que precisam provar seu valor através de ostentação, curtidas e comentários elogiosos. Muitas dessas interações vêm de grupos de engajamento, onde o acordo é simples: você comenta no meu post e eu comento no seu, e juntos fingimos relevância.

Mas me diga: você quer construir uma carreira sólida ou interpretar um personagem performático para agradar o algoritmo?

Há muita gente talentosa, sábia e verdadeiramente realizada que sequer está nas redes. Gente que não vende imagem, mas constrói um legado offline. Não se sinta na obrigação de se adequar a esse universo se não faz sentido para você.

Confesso que, por trabalhar online, tenho sentido um cansaço crescente desse ambiente, sobretudo de redes sociais.

Quando comecei a criar conteúdo foi por uma vontade genuína de compartilhar o que sei, talvez herdada da minha família de professoras. Mas, hoje, esse desejo de viver mais longe do excesso de estímulos das redes entrou em conflito com minha profissão.

Aqui no blog me sinto mais tranquila para criar, por gostar de escrever, mas não me prendo a métricas.

Sei que não basta saber o assunto. É preciso falar da forma que o algoritmo aprova. E, se a saúde mental permitir, aguentar o hate quando você furar a sua bolha. Mesmo com estudos, embasamento e referências e anos de carreira, uma simples crase fora do lugar pode virar motivo de escárnio, alimentado por quem está ali apenas para desmerecer.

O ambiente digital, que poderia ser um espaço fértil para trocas significativas, muitas vezes se transforma em um campo de batalha.

Conclusão

Se você sente que criar conteúdo tem sido mais uma cobrança do que uma ferramenta de expressão, talvez seja hora de escolher um caminho que respeite sua realidade e, principalmente, seu equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. Há, basicamente, três possibilidades:

  1. Terceirizar a criação, mantendo sua imagem, mas contando com profissionais para executar a parte estratégica e criativa. Funciona bem quando há alinhamento e direção.

Risco: contratar quem apenas replica fórmulas vazias, resultando em um conteúdo genérico, sem alma e sem conexão com sua audiência.

  1. Assumir a criação de forma independente, mesmo que com pouco tempo e poucos recursos, apostando no aprendizado e na consistência. Essa opção pode trazer mais autenticidade, mas exige energia, estudo e resiliência.

Risco: crescimento lento em um ambiente saturado e a dificuldade de encontrar seu diferencial em meio a tantos fazendo o mesmo.

  1. Focar na sua atuação e em bons relacionamentos fora das redes, deixando o conteúdo como algo secundário (ou inexistente). Isso pode preservar sua energia para o que realmente importa, especialmente se seu trabalho fala por si.

Risco: limitar o alcance e a escalabilidade do seu negócio, especialmente se você sonha em ganhar mais sem necessariamente trabalhar mais, a partir da renda de produtos digitais.

Não existe resposta certa, só o que faz sentido para você agora. Só não vale seguir criando por obrigação, sufocando sua essência para caber em moldes que nem foram feitos para quem você é.

Uma coisa é certa: você só vai encontrar o seu caminho quando começar a experimentar. Foi exatamente assim comigo. Este blog, por exemplo, tem sido um termômetro, tanto dos meus interesses quanto daquilo que as pessoas se conectam quando escrevo com verdade. Ele me oferece um espaço mais silencioso, sem a pressão constante por performance, onde posso criar com mais liberdade e escuta.

Se você sente vontade de criar para se expressar ou até se descobrir, talvez o blog (ou outro espaço mais íntimo e menos barulhento) seja um bom começo.

E você? Já encontrou um formato que funcione para você ou ainda está tentando se entender nesse cenário? Me conta nos comentários, vou adorar trocar ideias sobre isso.

Imagem: Pexels


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