Outro dia me peguei exatamente assim: questionando todas as minhas escolhas profissionais, revisando mentalmente cada passo que dei até aqui. Não era só cansaço, era uma sensação real de que talvez eu quisesse outro caminho totalmente diferente.
Abri o LinkedIn e logo me apareceu um post em destaque que dizia: a crise da meia-idade dos millennials chegou.
Dei risada, mas foi de nervoso. Eu, quase chegando aos 40, fiz as contas. Considerando a expectativa de vida no Brasil, sim, cheguei na tal meia-idade.
Percebo que a nossa crise é diferente da que nossos pais viveram. Não é sobre comprar uma moto ou mudar o corte de cabelo radicalmente. É uma crise que começa com uma pergunta que nos incomoda: tudo isso que construí ao longo da minha juventude… faz sentido pra mim agora?
Nos perguntamos se fizemos as escolhas certas, se perdemos o timing para alguma coisa, se deveríamos ter feito algo diferente lá atrás.
Nossos pais nos ensinaram que bastava estudar, tirar um diploma e um bom emprego viria. Com isso, ficaríamos satisfeitos e felizes para o resto de nossas vidas.
Só que a conta não fechou. A nossa geração adiou casamento e filhos para focar na carreira. Entramos no mercado acreditando que teríamos um retorno conforme nosso esforço e dedicação acadêmica, que seríamos reconhecidos pelos nossos chefes e alcançaríamos nossa amada estabilidade financeira aos 30, quando pensaríamos em começar uma família. E quando isso não veio como prometido, ficamos perdidos.
Aconteceu também que na mídia começaram a dizer que deveríamos trabalhar com o que amamos. Que só assim seríamos felizes. Isso criou uma expectativa difícil de sustentar.
Trabalhar com algo que você gosta é ótimo, mas isso não significa que todos os dias serão inspiradores, nem que a realização profissional vai resolver todas as frustrações da vida.
Isso partiu para uma mudança de objetivos.
Ao invés da busca incessante por uma carreira “estável” CLT ou concursos, cargos mais altos, salários maiores e status social, tenho visto muita gente da minha idade trocando a correria por mais qualidade de vida.
Querem rotina equilibrada, tempo com a família e sossego. Com isso, trabalhar remoto, e longe das grandes metrópoles, tem sido a alternativa mais viável. Muitos querem ver os filhos crescendo no interior, com quintal, não presos em um apartamento na selva de pedra.
Mesmo quem conquistou o que queria, às vezes se vê frustrado. E aí surge outra pergunta: se eu alcancei o que tanto desejava há cinco ou dez anos, por que continuo insatisfeita?
Talvez porque confundimos estabilidade com realização. Ou projetamos o que é sucesso pelo sucesso (aparente) do outro. O que é muito comum em tempos de redes sociais.
Se antes nosso ciclo de comparação era apenas em nossa bolha familiar e entre amigos próximos, hoje abrimos um nível de comparação mundial, com a ascensão da internet.
Enquanto questionamos nossa própria vida, assistimos pela tela do celular jovens faturando milhões com vídeos de conteúdo de entretenimento de baixa qualidade, mas que prendem a atenção, imaginando que esses indivíduos são as inspirações de sucesso das novas gerações.
Por outro lado, também esperamos que o trabalho nos preencha por completo. Sendo que a vida é muito mais do que isso (lazer, família, hobbies).
Nem sempre vamos trabalhar com o que amamos. O mais importante é que o trabalho nos dê estrutura, segurança, tranquilidade e uma previsibilidade para planejar o futuro (comprar uma casa maior, pagar a faculdade dos filhos, ter uma reserva financeira para saúde etc). Isso já é muita coisa.
Uma vizinha me contou que o marido fez carreira num grande banco, começou pequeno e cresceu bastante, mudou de país, teve reconhecimento. Mas em determinado momento, simplesmente quis parar. Voltaram ao Brasil e ele aceitou um cargo mais simples, apenas pra ter paz até a sua aposentadoria.
Ele não era um integrante da geração Z em busca de propósito. Era um baby boomer com filhos criados, que decidiu desacelerar.
Isso me fez pensar sobre o quanto ainda romantizamos demais a ideia de realização profissional em curto prazo. Tem dias que o trabalho é só trabalho. Viver esse processo não significa que estamos fracassando. O que não dá é viver empurrando os dias com algo que nos suga por completo, como ter que atuar em um ambiente degradante.
Desenvolver uma carreira é agir com cautela, sempre planejando o próximo passo e se perguntando: como isso vai me ajudar profissionalmente?
Não está legal agora? Então, o que dá pra fazer para melhorar daqui pra frente?
Se especializar em uma área com mais afinidade?
Investir no inglês de forma séria?
Organizar as finanças para fazer uma transição de carreira com mais segurança?
Se é pra viver uma crise de meia-idade, que seja uma crise produtiva. Daquelas que fazem a gente ajustar o rumo, planejar melhor, entender o que precisa mudar, com mais clareza e paciência.
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Imagem de capa: criada por IA pelo o WordPress (não são exatamente como eu gostaria, mas me fazem economizar tempo).


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