Criar conteúdo virou uma espécie de obrigação para muitos profissionais no Brasil. Para alguns, é a única forma de faturar. Mas e aqueles que escrevem sem retorno financeiro, apenas pelo prazer ou necessidade interna? Será que estamos perdendo tempo?
Desde que me tornei mãe, penso com muito mais critério sobre o uso do meu tempo. Quero estar presente, brincar com minha filha, apoiar seus estudos. Isso é inegociável. E a partir desse alicerce, organizo o restante da minha vida.

Foi também a maternidade que me afastou das redes sociais pessoais.
Vi nelas uma enorme perda de tempo, sobretudo quando tinha muitas tarefas e uma vida offline incrível para viver.
Ainda as uso para o trabalho, mas de forma intencional, apenas para pesquisa e criação de conteúdo comercial. Mas um dia ainda quero ter a liberdade e o luxo de não precisar totalmente.
Escrever, no entanto, é diferente. Sempre foi minha maneira de organizar pensamentos, reter memórias e conhecimento e, acima de tudo, compartilhar. Por isso mantenho meu blog. Porém, os blogs perderam muito de sua essência quando começaram a seguir regras, métricas e passaram a fazer parte de estratégias de marketing em empresas.
Hoje, muitos escritores, para serem vistos, migraram para o Substack, e confesso que já considerei fazer o mesmo. As pessoas, cansadas das redes sociais e das exigências dos mecanismos de busca, também buscaram refúgio por lá. Mas a ferramenta está cada vez mais próxima das redes sociais, incorporando espaços para posts curtos semelhantes ao X e ao Threads e, agora, vídeos curtos 😒.
Essas mudanças reforçam a ideia de que é preciso postar constantemente para obter algum tipo de retorno social.
Quando percebo que essa lógica se repete, vejo que o melhor lugar ainda é aqui. Prefiro a escrita despretensiosa. Mesmo pensando que meus textos podem ser interessantes para muitas pessoas que não os lerão, sigo praticamente escondida das big techs aqui.
A grande mudança para não depender de algoritmos veio quando passei a usar a escrita como um registro de mim mesma. Escrevo para mim. Talvez para minha filha ler no futuro.
Meu blog é meu diário de estudos e um espaço terapêutico. Sei que essa escrita nunca será em vão. Mesmo sem retorno financeiro imediato, aprendo ao escrever. E talvez alguém, em algum momento, leia algo aqui e leve um insight para a vida — mesmo sem lembrar de onde veio.
Nem todo conteúdo precisa pagar as contas, mas também não deve cobrar sua paz
Prometi a mim mesma que nunca trocaria um momento com minha família para alimentar redes sociais, newsletters ou blogs. Por isso, não posso garantir frequência que agrade os algoritmos ou manter um compromisso fixo com minha audiência. Escrevo sem pressa, sem metas de engajamento. Apenas pelo prazer e pelo aprendizado.
Se você quer criar conteúdo por motivos educativos ou terapêuticos, não se prenda às regras do mercado. Não espere pelos likes ou comentários. As pessoas estão preocupadas com suas próprias vidas. Se seu conteúdo fizer sentido para alguém, essa pessoa o encontrará.
Talvez o tempo que você gasta tentando agradar os outros possa ser melhor aproveitado: criando memórias com sua família, cuidando da sua saúde, investindo em algo que realmente importa.
Sempre reflito sobre isso antes de produzir algo extra ao meu trabalho formal remunerado. Quando olhar para trás, quais serão meus arrependimentos? O que quero ter deixado no mundo?
Imagine a internet do futuro: um imenso arquivo onde aqueles que já partiram terão deixado seus registros pessoais. Suas histórias, pensamentos e sentimentos continuarão a flutuar no universo digital, como fragmentos de uma memória coletiva. Pensar sobre isso é, ao mesmo tempo, assustador e fascinante. Como a escrita de um livro, talvez essa seja mais uma forma de alcançar a imortalidade.
Eu acharia incrível encontrar os registros escritos da minha avó e ter uma noção sobre como era sua visão de mundo.
Aliás, isso me faz lembrar de tantos artistas e escritores que só conquistaram o reconhecimento que buscavam em vida depois de sua morte.
No momento, penso que a escrita me permitirá revisitar momentos, acompanhar minha evolução, lembrar livros que li e, quem sabe, despertar uma releitura. Amo escrever sobre a vida e o comportamento humano. E sei que meus textos poderiam fazer muitas pessoas refletirem. Elas só ainda não os encontraram.
Criação de conteúdo como expressão de si mesmo
Muitas pessoas se sentem ansiosas por consumir uma enxurrada de informações sem tempo para criar. A mente se enche de conhecimentos soltos, memórias fragmentadas que precisam de uma estrutura, algo que a criação ativa proporciona.
Por isso, no meu blog, busco destacar e valorizar a leitura criteriosa de livros e artigos, selecionando conteúdos que realmente agregam à área que desejo aprofundar, seja na vida pessoal ou profissional. Mas apenas absorver não basta: a prática é essencial para consolidar o aprendizado.
Para mim, essa prática é a escrita, para um programador, pode ser desenvolver um código e criar um programa ou um jogo, para uma nutricionista, pode ser inventar receitas e combinações de alimentos.
Meu objetivo com esse texto é incentivar você a sair do modo passivo e se tornar protagonista da própria criação, sem ficar refém das regras da internet.
No livro Roube como um artista, Austin Kleon aconselha: “Escreva o livro que você quer ler”. Quando você cria algo que realmente te agrada, há grandes chances de que, em algum momento, isso também desperte o interesse de outras pessoas.
Outra dica do autor é: “Escreva sobre o que você gosta.” Quando criamos a partir dos nossos próprios interesses, o processo se torna mais leve, e até prazeroso.
Essa ideia está alinhada ao que Robert Greene defende em seu livro Maestria: pessoas que realmente se destacam em suas áreas são, em geral, profundamente envolvidas com o tema, a ponto de transformá-lo quase em um hobby ou uma extensão de suas vidas. A paixão genuína é o combustível da excelência.

No fim das contas, a escrita me lembra que não preciso estar sempre visível para ter valor. Criar sem a pressão dos algoritmos me dá liberdade. A vida acontece fora das telas, e é dela que vem a melhor inspiração. Se há algo que quero deixar registrado, não são apenas palavras, mas as lembranças físicas que eu gerei.
Se você sente que precisa criar conteúdo para ter um retorno financeiro, lembre-se de que a maioria dos criadores que hoje vivem disso começou de forma despretensiosa, escrevendo, gravando e compartilhando por anos antes de alcançar um patamar de reconhecimento.
Criar algo relevante, que atinja várias pessoas, leva tempo e precisa de constância e consistência, e se você tem algo importante a dizer, algo que pode contribuir genuinamente para a sociedade, então vale a pena começar (e, principalmente, continuar, no seu ritmo).
Mas que seja pela mensagem e não apenas pela busca por números. Caso se sinta prisioneiro de suas criações, pare e reflita sobre o real objetivo por trás de suas ações. A longo prazo, a autenticidade sempre se destaca.
Se você está cansado(a) de criar conteúdo profissionalmente, experimente estratégias diferentes para conquistar o público, longe das redes sociais. Aqui pode encontrar algumas dicas: Como vender mais no varejo físico sem depender das redes sociais?
Imagem: Pexels


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