Imagine um shopping center às vésperas do Natal. Filas intermináveis, barulho ensurdecedor, pessoas correndo de um lado para o outro, empurrões involuntários e uma sobrecarga de estímulos visuais e sonoros.
Navegar na internet se parece com isso hoje: um espaço lotado, onde todo mundo grita ao mesmo tempo tentando chamar atenção, e não é possível focar em nada específico sem ser atraído por outro movimento.
Muitas pessoas já experimentam uma sensação claustrofóbica online, bombardeadas por informações, notificações incessantes e um fluxo interminável de conteúdos. Esse excesso tem, inclusive, gerado um desejo crescente de desconexão, impulsionando o conceito de “detox digital”.

Saímos de um passeio em um bairro pequeno, em uma cidade do interior, onde qualquer lojinha chama a atenção e encanta, para o centro de uma grande metrópole congestionada e repleta de letreiros.
No início, a promessa da internet era ser um espaço de liberdade e criatividade. O cenário parecia promissor: qualquer pessoa poderia criar conteúdo, encontrar seu público e crescer de forma orgânica. Mas a realidade se mostrou diferente.
Com a explosão de informações e a onipresença dos algoritmos, a internet se tornou um campo de batalha onde nem sempre vence quem tem o melhor conteúdo, mas sim quem joga melhor o jogo da persuasão. E, muitas vezes, esse jogo envolve técnicas questionáveis.
As redes sociais, que eram uma forma de manter o contato com os amigos à distância, se tornaram uma grande vitrine de vendas. Dificilmente você vai encontrar um criador de conteúdo que não queira monetizar. Eu, por exemplo, crio aqui de forma despretensiosa, mas é claro que ficaria feliz se, de alguma forma, houvesse um retorno financeiro.
No começo da internet 2.0, as pessoas criavam conteúdo para se divertir ou passar o tempo. Com os anos, ao verem os ganhos de muitos criadores, tanto indivíduos quanto empresas resolveram explorar mais os recursos disponíveis.
A lógica do engajamento premia o que é mais chamativo, não necessariamente o que é mais útil ou verdadeiro. Por isso, conteúdos sensacionalistas e fórmulas prontas proliferam, enquanto informações realmente relevantes podem ficar soterradas.
Não é incomum ver influencers sem formação dando dicas de saúde, plataformas de jogos promovendo vícios ou gurus prometendo enriquecimento rápido com métodos duvidosos. A atenção virou um recurso escasso e, para muitos, vale tudo para capturá-la.
Para os criadores de conteúdo mais éticos e/ou que estão começando agora, esse cenário torna-se um desafio gigantesco.
Quem começou há mais tempo já tem sua base consolidada, enquanto novos criadores precisam competir contra uma avalanche de conteúdos patrocinados e o domínio das grandes plataformas.
A descoberta orgânica está cada dia mais difícil. Abrir um blog, um canal ou um perfil hoje é como colocar uma loja dentro daquele shopping lotado: sem um público fiel, as chances de ser notado são mínimas.
Diante disso, o caminho mais inteligente não está em gritar mais alto, mas sim em falar para as pessoas certas. A saída está na criação de comunidades de nicho, conceito que tem ganhado cada vez mais força no mundo do marketing.
No livro A Vaca Roxa, Seth Godin fala sobre como, no cenário atual, marcas que lançam produtos devem focar no público mais propenso a experimentar, em vez de tentar atingir o maior número de pessoas, diferente das propagandas do passado, que visavam atingir o maior número de pessoas possível.
Isso também vale para os criadores de conteúdo, e para quem busca conhecimento mais direcionado: em vez de depender dos algoritmos voláteis das redes sociais, vale investir em espaços onde o controle está nas mãos do criador. Algumas ferramentas que podem ajudar nesse processo:
- newsletters, em plataformas como o Substack: permitem uma comunicação direta com o público, sem depender do alcance de plataformas intermediárias;
- grupos privados (WhatsApp, Telegram, Discord): criam um ambiente de troca mais próximo e segmentado;
- fóruns e comunidades (Reddit, grupos do Facebook, plataformas próprias): espaços onde o público pode interagir e compartilhar ideias sem a interferência dos algoritmos.
A internet pode continuar sendo um shopping lotado para quem quer brigar por atenção. Mas, para quem busca construir algo mais sólido, talvez seja hora de sair do tumulto e encontrar um espaço mais silencioso, onde as conexões realmente são eficazes.
Você participa de alguma comunidade?


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