Minha infância e adolescência foram relativamente tranquilas. Meus pais nunca demonstraram grandes dificuldades financeiras. Nunca faltou nada, mas existiam restrições.
Estudei em escola pública. Muitas vezes, ao pedir algo, minha mãe dizia que não havia dinheiro. Para complementar a renda, ela aplicava provas nos finais de semana. Funcionária concursada do estado, segurava as pontas quando meu pai ficava desempregado. Layoffs não são uma novidade dos tempos atuais.
Essa escassez moderada, que muitos que viveram nos anos 90 devem lembrar, nos trouxe algo valioso: criatividade.
Minha mãe não podia comprar cadernos de capa decorada, então adquiria os mais simples e os encapava com papel de presente antes do início das aulas. Era um momento divertido, e as sobras do papel serviam para enfeitar as páginas.
Por sorte, minha mãe era formada em artes e sempre inventava maneiras criativas de nos entreter. Naquela época, não existiam smartphones, e os desenhos animados passavam em horários limitados. Os pais precisavam ser extremamente criativos para manter as crianças ocupadas.
Brincávamos com argila, massinha de modelar caseira e customizávamos nossas roupas com rendas e fitas, uma tendência da época. Criávamos artes com o kit de tintas da minha mãe e transformávamos os desenhos em agendas e blocos de anotações. Uma das atividades mais marcantes era a colagem de revistas: recortávamos imagens e letras para criar capas personalizadas e quadros — um verdadeiro Pinterest analógico.
Me divertia ouvindo histórias e músicas na radiola. Durante as férias no interior, sem TV ou telefone, aprendi a ler sozinha antes dos cinco anos com um livro antigo da minha avó, encontrado no fundo de uma gaveta.
Essas experiências moldaram minhas referências, a minha forma de enxergar a realidade e me despertaram o desejo constante de criar algo novo, que realizo muito através da escrita. Acredito que todo esse processo fez com que as pessoas ao meu redor passassem a me caracterizar como criativa, até os dias de hoje.
A importância da criatividade na infância
Proporcionar experiências criativas às crianças é essencial para o desenvolvimento cognitivo, emocional e social. Quando exploram a imaginação por meio de brincadeiras, histórias, música e arte, aprendem a resolver problemas, desenvolvem autoconfiança e expressam emoções de forma saudável. A criatividade também estimula a curiosidade, tornando o aprendizado mais significativo.
Em um mundo cada vez mais digital, incentivar atividades criativas ajuda a equilibrar o uso das telas e fortalece habilidades como paciência, resiliência e colaboração. Isso prepara as crianças para desafios futuros com mais autonomia e capacidade de inovação.
Criatividade: muito além da arte
Muitos acreditam que a criatividade é um dom exclusivo de artistas ou publicitários, mas ela está presente em todas as profissões e situações cotidianas. Criatividade é a habilidade de gerar ideias novas, resolver problemas de maneira inovadora e enxergar soluções fora do convencional. Envolve imaginação, pensamento crítico e experiência, resultando em algo original e valioso.
Empresas inovadoras utilizam a criatividade para desenvolver novos produtos, otimizar processos e se destacar no mercado. Profissionais criativos encontram maneiras mais eficientes de solucionar desafios e se adaptar às mudanças. Professores criativos tornam o aprendizado mais dinâmico e envolvente. Na tecnologia, a criatividade impulsiona a criação de soluções digitais que transformam nosso dia a dia.
Mas o que estimula a criatividade? Experiências. Os livros que lemos, as pessoas com quem conversamos, os lugares que visitamos, os filmes que assistimos, as receitas que testamos. E, principalmente, a prática. Quanto mais exercitamos uma atividade, mais ideias surgem. Para ser criativo, é preciso sair da posição de espectador para a de criador.
O exemplo do Canva: criatividade e inovação
Um exemplo de criatividade transformadora é a história do Canva.
Lecionando sobre design, Melanie Perkins percebeu um problema real: ferramentas de design eram complexas e inacessíveis para a maioria das pessoas. Sua primeira solução, o Fusion Books, permitia que estudantes criassem anuários escolares intuitivamente. Esse conceito mostrou que havia demanda por um design mais acessível e, com criatividade, Melanie expandiu a ideia.

O diferencial foi sua visão inovadora: em vez de criar mais um software profissional, ela desenvolveu uma plataforma que qualquer pessoa pudesse usar. O Canva cresceu a ponto de se tornar um concorrente direto do Adobe, que dominava o mercado de design gráfico há décadas.
A criatividade de Melanie não esteve apenas na concepção do produto, mas também na persistência e aprimoramento da solução ao longo do tempo.
Esse caso reforça um ponto essencial: criatividade não é apenas ter ideias, mas enxergar oportunidades onde ninguém mais vê e executá-las de forma inovadora. O Canva simplificou o design sem comprometer a qualidade, democratizando o acesso à criação visual e transformando um mercado inteiro.
Criatividade não é magia. É a capacidade de conectar experiências, aprender com desafios e transformar ideias simples em soluções inovadoras.
E você, como tem exercitado sua criatividade?
Eu venho explorando a escrita, sobretudo para contar histórias. Cada texto que compartilho é um reflexo do meu momento. No futuro, quero reler tudo e ver até onde minha criatividade me levou.
Imagem: Pexels


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